ERMIDA DE SANTO ANTÓNIO,
MONTIJO
na
QUINTA DO PÁTEO D'ÁGUA
Já da segunda metade do século XX é o revestimento da Capela de Santo António, na Quinta do Pátio d’Água. Esta denuncia a evolução para a azulejaria rococó, conjugando as cercaduras policromas com a figuração de episódios da vida do santo titular, ainda a azul e branco.
Se no período barroco a azulejaria encontrou nos interiores dos templos a sua principal vocação, a verdade é que os painéis cerâmicos exteriores, com a representação de santos, visando a proteção de uma determinada casa ou igreja, prolongaram uma tendência já anteriormente observada, e que se viria a intensificar nas centúrias seguintes.
Os denominados registos, que se multiplicaram depois do Terramoto de 1755 e que procuravam invocar a proteção do santo representado, encerram uma dimensão sociológica de grande interesse, encontrando-se três exemplos setecentistas em Aldeia Galega. Quinta do Pátio d’Água Painel representando um milagre, na galilé da Capela de Santo António Freguesia do Montijo O mais antigo representa Nossa Senhora a oferecer o rosário a São Domingos de Gusmão, e foi aplicado na fachada do edifício n.º 51-53 da Avenida João de Deus, antiga Rua Nova. O segundo encontra-se na fachada da Capela do Senhor dos Aflitos e representa Nossa Senhora das Dores. Reza a tradição que se destinava às mulheres grávidas que ali se deslocavam em busca de proteção para um bom parto. O último invoca Nossa Senhora da Atalaia e está aplicado no Moinho de Esteval.
Vejamos,com o devido crédito e vénia, o que nos diz Francisco Correia, insígne Historiador , sobre " A Capela de Santo António":
" As primeiras referências históricas à antiga Ermida de Santo António remontam ao ano de 1564, data das visitações feitas pela Ordem de S. Tiago à então vila de Aldeia Galega do Ribatejo, e existentes no Arquivo Nacional da Torre do Tombo. Nestas visitações faz-se menção de que esta mesma ermida pertencia à quinta de Duarte Rodrigues Pimentel.
Numa lápide setecentista, existente à entrada da mesma, é-nos dada informação de quem a construiu: “Esta Igreja mandou edificar Duarte Roiz Pimentel fidalgo da Caza de el Rey D. João o 3º…”.
E era, certamente, já habitada, em 1553, por D. Duarte Rodrigues Pimentel, uma vez que esse é o ano do nascimento de um seu filho, mais tarde conhecido por Fr. João da Madre de Deus – figura a merecer estudo mais aprofundado e um dos poucos montijenses a ser mencionado nas mais famosas bibliografias nacionais, a “Bibliotheca Lusitana”, de Diogo Barbosa Machado e o “Diccionário Bibliographico”, de Inocêncio Francisco da Silva, em razão das suas 3 obras publicadas, ainda em vida.
Mas voltemos à Quinta de S. António e à sua Ermida….
Naquela que é uma das primeiras descrições sobre a antiga Aldeia Galega, o Padre António Carvalho da Costa refere-se, no ano de 1712, e depois de falar na vila, à ermida e quinta de S. António. A ermida, nas suas palavras, encontrava-se já nos arrabaldes da vila, para os lados do Poente. Escreve, sobre a quinta de S. António: “A Quinta de Francisco de Novaes Casado, que tem boas casas, laranjal da China, & outras frutas, com muyta fazenda livre, marinhas, bons pinhais, & hum bom moinho de seis engenhos.” (Corografia Portugueza e Descripçam Topográfica do Famozo Reyno de Portugal…”, tomo III, Lisboa, Officina Real Deslandesiana, 1712, cap. VII, p.325).
A consulta de uma das mais importantes fontes documentais para a nossa História local, as chamadas “Memórias Paroquiais” de 1758, não nos diz muito mais. Na inexistência das habituais respostas dos párocos das paróquias deste concelho, na altura, a do Divino Espirito Santo de Aldeia Galega e a de Sarilhos Grandes, ficamos sem saber das consequências do terramoto de 1755, nesta vila, e concretamente na Igreja de S. António. A já referida inscrição setecentista, existente à entrada da Capela, não nos permite deduzir qualquer dano provocado pelo terramoto, apenas que teve obras no ano de 1789.
Na falta de outros documentos escritos, recorremos à tradição oral e nela consta um milagre associado à ermida de S. António e ao terramoto de 1755. Do que se passou no dia 1 de Novembro de 1755, nesta antiga vila de Aldeia Galega, conta-se assim: nesse dia, a população, apavorada com o terramoto, pediu à Misericórdia para organizar uma procissão; ela veio a realizar-se e quando a imagem do Senhor Jesus da Misericórdia passava junto à Ermida de S. António, as águas, que até então alagavam tudo ao redor, começaram a recuar e a procissão pôde avançar até ao Recolhimento de Nossa Senhora da Conceição (ao fundo da Av. dos Pescadores e hoje inexistente).
A partir de então, e em memória destes acontecimentos, a Mesa da Misericórdia determinou que se organizasse, todos os anos e nesse mesmo dia, uma procissão de acção de graças, entre a Igreja da Misericórdia e o antigo Recolhimento de Nossa Senhora da Conceição, com passagem pela ermida de S. António. Sabemos, pela consulta das actas da Mesa da Misericórdia (existentes no Arquivo Municipal do Montijo), que a procissão continuou a fazer-se até 1908, data em que foi eleita a primeira Mesa da Misericórdia republicana de Aldeia Galega, que acabou com esta prática secular – ainda que por pouco tempo, esta procissão foi retomada, no ano de 1953, pelo Padre Gomes Pólvora, depois de concluídas as obras, de meados do século passado, num projecto do grande arquitecto Porfírio Pardal Monteiro, datado de 1919, e que nos deu a configuração actual do conjunto habitacional e capela.
Era proprietário o comandante António Santos Fernandes, e, nessa qualidade, foi o autor dos pedidos de licenciamento enviados à Câmara Municipal do Montijo para as obras do conjunto habitacional, no ano de 1944 e, em 1947, para a obra de remodelação da ermida (Arquivo Municipal do Montijo/Câmara Municipal, Processos de Obras Particulares, A/023/1944 e A/016/1947).
70 anos depois deste licenciamento, a capela de S. António é alvo de novas obras de remodelação – o restauro dos vitrais de Ricardo Leone e dos azulejos do século XVIII são algumas delas. Estou particularmente curioso com o trabalho que nos irá apresentar a artista plástica montijense, Fernanda Fragateiro – o património, esse, estou certo, e tratando-se de um imóvel classificado de Interesse Público, desde 19/2/2002, será bem acautelado e já foi, certamente, alvo de licença prévia da Direcção-Geral do Património Cultural.
Antes ainda, refira-se que todo este conjunto habitacional, hoje conhecido por Quinta do Pátio de Água e onde, actualmente, está instalada a União de Freguesias de Montijo e Afonsoeiro, teve importantes obras de recuperação, tendo sido a inauguração das mesmas incluída no programa das comemorações do Dia da Cidade de 2009, logo depois de um outro momento alto proporcionado pelo ilustríssimo historiador Joaquim Veríssimo Serrão, com uma conferência sobre “A Cidade do Montijo na História de Portugal”. "
As obras na Capela de S. António (inauguração em 2017) seguem o mesmo lema ; A sua inauguração é, também, um pretexto para o aprofundamento e a divulgação da nossa História Local.
RESPONSÁVEL,COM A SUA EQUIPA ALARGADA,PELO PROJETO DE REABILITAÇÃO
FERNANDA FRAGATEIRO (Montijo, 1962) vive e trabalha em Lisboa.
Com uma obra multifacetada, Fernanda Fragateiro explora o espaço nos seus diversos significados e manifestações fenomenológicas, sejam arquitectónicas, escultóricas, privadas e públicas, temporais e sociais. O seu trabalho altera e reconfigura o espaço através de objectos e intervenções urbanas e na paisagem, alterando a sua percepção e significado.Variando na escala e nos suportes utilizados, o trabalho da artista mantém um estilo marcadamente definido, nascido de uma estética minimalista da forma, cor e textura.
O trabalho de Fernanda Fragateiro foi exposto na Dublin Contemporary (2011), Irlanda, na Trienal de Arquitectura de Lisboa (2010), bem como em instituições públicas e museus, tais como a Fundação Marcelino Botín, Santader, Espanha (2009); IVAM, Valência, Espanha (2008); Centro Cultural de Belém, Lisboa (2006); Fundação de Serralves, Porto (2005); Fundacão ‘La Caixa’, Caixa Forum, Barcelona, Espanha (2004); Culturgest, Lisboa (2003. Depois de Conteúdo Desconhecido, em 2009, (Cortar) Texto Sem Palavras é a segunda exposição individual da artista na Baginski, Galeria / Projectos.
O trabalho de Fernanda Fragateiro encontra-se representado em diversas coleções Públicas e Privadas, destacando-se Ella Fontanals Cisneros Collection, Miami, EUA; Museo Nacional Centro de Arte Reina Sofía, Madrid; Harvard Art Museums, Cambridge, EUA, Fundación Claudia Hakim, Bogotá, Colômbia, Museo Extremeño y Ibero-americano de Arte Contemporáneo.
O trabalho de Fernanda Fragateiro encontra-se representado em diversas coleções Públicas e Privadas, destacando-se Ella Fontanals Cisneros Collection, Miami, EUA; Museo Nacional Centro de Arte Reina Sofía, Madrid; Harvard Art Museums, Cambridge, EUA, Fundación Claudia Hakim, Bogotá, Colômbia, Museo Extremeño y Ibero-americano de Arte Contemporáneo.
OS
MILAGRES
alguns representados em Painéis
na Capela de Santo António
São muitos os milagres atribuídos a Santo António, ocorridos tanto em vida como após a morte. O Santo nasceu provavelmente no verão de 1195, com o nome de Fernando de Bulhões, perto da Sé de Lisboa, onde ainda criança iniciou a sua instrução. Aos 15 anos, entrou para o Mosteiro de S. Vicente de Fora, de frades agostinhos, e, mais tarde, completou a sua educação em Santa Cruz de Coimbra, também da mesma ordem. Após ter aprendido em Portugal tudo o que era possível saber naquela altura, a sua natureza curiosa e o seu insaciável desejo de aprender levaram o jovem a embarcar para Marrocos, com a intenção de evangelizar os povos, dando-lhes a conhecer a palavra de Deus. No entanto, devido a problemas de saúde, rapidamente, embarcou de regresso a Portugal, onde nunca chegou, pois o barco, em que navegava, foi atingido por uma tempestade e chegou à Sicília, tendo depois rumado para o centro de Itália, onde se encontrava S. Francisco de Assis. Foi companheiro deste e tornou-se franciscano, tomando o nome de António. Começou a manifestar dotes de orador, tendo ficado famoso pela simplicidade e força dos seus sermões. Santo António morreu aos 36 anos e foi canonizado pelo Papa Gregório IX, um ano apenas após a sua morte.1.Os Pássaros e a Plantação
O pai de Santo António, Martinho de Bulhões, gostava de ir a uma fazenda que possuía nos arredores de Lisboa. Um dia, levou o filho com ele. Ocorre que insaciáveis bandos de pássaros desciam continuamente para bicar os grãos de trigo. Era necessário espantá-los para impedir grave dano à colheita. Martinho encarregou o garoto de manter longe os pequenos ladrões. O pai se foi e Fernando permaneceu correndo de cá para lá no campo. Em pouco tempo , começou a se aborrecer com aquela ocupação. Não muito longe, uma capelinha rústica o convidava à oração. Mas o pai o mandara enxotar os passarinhos. Gritou então aos pássaros, convidando-os a segui-lo para dentro de uma sala da fazenda. Obedientes os pássaros entraram. Quando todos estavam dentro, Fernando fechou as janelas e as portas, e foi tranquilamente fazer sua visita ao Senhor. Retornando o pai veio procurá-lo. Andou pelo campo, chamando-o , mas não o encontrou. Preocupado, dirigiu-se à capela e o descobriu, todo absorto na prece. Fernando tomou o pai pelas mãos e o conduziu ao salão repleto dos vôos e dos cantos dos graciosos prisioneiros. Abriu a porta e, a um sinal seu, os pássaros, em bando, retornaram os livres caminhos do espaço.
2. O Jumento se Curva Diante da Eucaristia
Durante uma pregação, cujo tema era a Eucaristia, levantou-se um homem dizendo: “Eu acreditarei que Cristo está realmente presente na Hóstia Consagrada quando vir o meu jumento ajoelhar-se diante da custódia com o Santíssimo. Sacramento”. O Santo aceitou o desafio. Deixaram o pobre jumento três dias sem comer. No momento e lugar pré-estabelecido, apresentou-se António com a custódia e o herege com o seu jumento que já não aguentava manter-se em pé devido ao forçado jejum. Mesmo meio-morto de fome, deixou de lado a apetitosa pastagem que lhe era oferecida pelo seu dono, para se ajoelhar diante do Santíssimo Sacramento.
3.Sermão aos Peixes
Santo António foi pregar na cidade de Rímini, onde dominavam os hereges que resolveram não ouvi-lo em hipótese alguma. Frei António subiu ao púlpito e quase todos se retiraram e fugiram. Não esmoreceu e pregou aos que tinham ficado. Inflamado pela inspiração Divina, falou com tal energia que os hereges presentes, reconheceram seus erros e resolveram mudar de vida. Mas o Santo não estava contente com o resultado parcial Retirou-se para orar em solidão, pedindo ao Altíssimo que toda a cidade se convertesse.
Saindo do retiro, foi direto às praias do Mar Adriático e, em altos brados clamou aos peixes que o ouvissem e celebrassem com louvores ao seu supremo Criador, já que os homens ingratos não queriam fazê-lo. Diante daquela voz imperiosa, apareceram logo os incontáveis habitantes das águas, e se distribuíram ordenadamente, cada qual com os de sua espécie e tamanho. Os peixes ergueram suas cabeças da água e ficaram longo tempo imóveis, a ouvi-lo.
4. O Prato Envenenado
Alguns hereges resolveram matar Santo António, envenenando-o. Convidaram-no para comer com eles, dando como pretexto debater sobre alguns pontos da Fé. Santo António sempre aceitava comparecer a esses debates e polémicas. Os hereges puseram diante dele, entre outros pratos, um que continha veneno mortal. Antes que o tocasse, Deus revelou-lhe a cilada e o Santo, conservando toda a calma, repreendeu os hereges pela traição.
Vendo revelado o intento perverso, os hereges não se abalaram e responderam cinicamente: "É verdade que esse prato tem veneno, mas nós o colocamos aí porque desejamos fazer uma experiência: no Evangelho está escrito que Jesus Cristo disse aos seus discípulos que ainda que tomassem veneno mortal nenhum mal sofreriam e estamos querendo saber se és de fato discípulo de Cristo". Santo António fez o sinal da Cruz sobre aquele prato e o comeu com apetite, saboreando a comida envenenada como se fosse alimento saudável, e nada sofreu, deixando mais uma vez os hereges confusos e assombrados.
5. O Milagre da Bilocação
No domingo de Páscoa enquanto pregava na Catedral, Santo António lembrou-se de que fora designado para entoar a Alleluia na Missa que se celebrava naquele momento na Igreja do Convento franciscano. Não querendo faltar com a obediência e não podendo descer do púlpito, parou um pouco, calou-se como se estivesse retomando a respiração e, nesse momento, foi milagrosamente visto no Coro de seu convento, entoando a Alleluia. Esse prodigioso milagre de bilocação foi assistido e certificado por muitas testemunhas, espalhando-se a notícia em todos os locais.
6. Controle sobre o Tempo
Num dia festivo, em Limoges, Santo António pediu licença para pregar numa igreja paroquial. Como era imensa a sua fama,o povo deslocou-se para o local, mas o recinto era pequeno para acolher toda aquela gente e foi obrigado a pregar em praça pública. Mal havia começado o sermão, o céu escureceu e muitos relâmpagos e trovões anunciavam uma grande tempestade.
O povo, atemorizado, começou a murmurar e já se dispunham a sair dali em busca de abrigo. Mas Santo Antônio pediu silêncio e, em nome de Deus, assegurou que não choveria naquele local, recomendando a todos que ficassem atentos à pregação. Tranqüilizados, os fiéis ouviram o sermão até o fim. Quando se retiravam para suas casas, verificaram com muita admiração, que embora estivesse perfeitamente seco o local da pregação, toda a redondeza estava completamente alagada pela chuva da forte tempestade.
7. Santo António Cura um Louco
No meio de um sermão de Santo António, entrou um louco e, com voz alterada e gestos desordenados, perturbava os ouvintes que não conseguiam prestar atenção nas palavras do pregador. De repente, o louco disse: "Não sossegarei enquanto aquele homem (e apontou para Santo Antônio) não me der o cordão que usa na cintura". O Santo retirou o cordão e com ele envolveu o louco que foi imediatamente curado.
Santo Antonio pregava em Briba, quando uma senhora, apressada para assistir seu sermão, deixou sobre o fogo um caldeirão com água, sem se lembrar de que seu filho pequeno ficara só em casa.
8. Menino Salvo pela Fé
Ao chegar da pregação, viu com horror que o menino havia caído dentro do caldeirão e que a água estava fervendo. Bem se pode imaginar os gritos de desespero que deu a pobre mãe! Não ousava aproximar-se, certa de que encontraria a inocente vítima horrivelmente queimada e morta. Mas, cheia de fé em Santo António, invocou-o e quando aproximou-se seu filho estava são e salvo, brincando e pulando na água fervente, sem que esta lhe queimasse.
9. Criada Caminha sob Forte Chuva sem Molhar as Roupas
Certo dia, faltando alimentos no convento de Briba, Frei António mandou que fossem pedir a uma senhora devota, dona de uma grande propriedade, a esmola de algumas verduras. Apesar de estar chovendo fortemente, a piedosa senhora ordenou a uma criada que fosse apanhar as verduras na horta distante da casa.
A criada obedeceu contrariada pois chovia muito. Foi quando se deu conta de que, apesar da chuva torrencial que caía, não estava molhando nem os pés, nem as roupas que vestia. Chegou à horta, colheu as verduras, foi entregá-las no convento e retornou à casa completamente seca. Tanto ela, quanto sua senhora, ficaram assombradas diante daquele prodígio e não cessaram de contar a todos, os altos merecimentos do Santo.
10. Santo Antonio Ressuscita um Morto
Vinha Frei Antônio e um companheiro pelo caminho, voltavam de uma aldeia carregando grande peso às costas, quando encontraram um carroceiro que carregava um homem adormecido. O Santo, muito cansado, pediu-lhe por amor de Deus que levasse alguns víveres que ele e seu companheiro haviam recebido de esmola para o sustento da comunidade.
O carroceiro respondeu rudemente que não podia fazê-lo porque estava conduzindo um defunto. O Santo acreditou, rezou pelo descanso eterno da alma do falecido e continuou seu caminho. Qual não foi o espanto do carroceiro quando, mais tarde, foi acordar o amigo que supunha adormecido e o encontrou realmente morto!
Confuso e arrependido, foi em busca de Santo António e prostrou-se aos seus pés, pedindo-lhe humildemente perdão. Frei António se compadeceu do homem, aproximou-se da carroça e depois de uma curta oração, fez o sinal da Cruz sobre o cadáver e o ressuscitou.
11. Salvou um Homem da Morte por Esmagamento
Durante a construção do convento de Leontino, aconteceu o seguinte milagre: Estava sendo transportada uma grande pedra para o portal da igreja em uma carroça. Ao ser retirada, caiu sobre o carroceiro esmagando-o, deixando-o quase morto. Frei António, querendo por humildade ocultar seu dom de fazer milagres, disse aos presentes que invocassem o auxílio de São Francisco. Imediatamente o homem ferido levantou-se perfeitamente são, como se nenhum acidente tivesse ocorrido.
12. A Cura de um Menino Paralítico
Aproximou-se de Santo António uma mulher trazendo nos braços um filho paralítico de nascença e rogava em altos brados que o curasse. O Santo manifestou certo desagrado por aquela forma ruidosa de pedir, mas a mulher continuou a implorar.
Tanto ela pediu e suplicou, que este, afinal, fez sobre o menino paralítico o "sinal da cruz", curando-o imediatamente. Com modéstia, atribuiu o milagre à fé da boa mulher e recomendou-lhe que não contasse o ocorrido à ninguém enquanto ele fosse vivo.
13. O Menino Jesus Aparece para o Santo
Certa vez, Santo António precisou de alojamento em Pádua e um senhor nobre, da família dos Condes de Camposampiero, teve a honra de o acolher em sua casa. Uma noite, vendo do lado de fora do quarto de Frei António alguns raios de luz, aproximou-se e viu o Santo segurando nos braços um gracioso Menino que suavemente o acariciava.
Ficou cheio de espanto por tão extraordinária maravilha. Compreendeu que se tratava do Menino Jesus que se tornara vísível ao Santo para recompensá-lo com celestes consolações pelas fadigas sofridas. Enquanto ainda observava, o Menino desapareceu. Saindo do extâse, Frei António deixou o quarto e dirigiu-se ao dono da casa, dizendo que sabia que ele o havia observado durante a aparição. Pediu então com insistência que não revelasse o que tinha visto. O senhor cumpriu a palavra, somente revelando o fato depois da morte do Santo. A história o tocara profundamente e todas as vezes que a relatava, não conseguia reter as lágrimas.
14. Reconstituiu um Pé Decepado
Um jovem chamado Leonardo confessou-se com o Santo e contou-lhe que, levado pela cólera, havia dado um pontapé em sua mãe. Frei António, para fazê-lo compreender a gravidade do pecado que cometera, disse-lhe: "Teu pé bem que merecia ser cortado". Essas palavras impressionaram tão fortemente o jovem, que este,chegando em casa, aterrorizado com o que fizera, cortou fora o pé. Na hora em que caiu ao chão, fez um ruido tão grande que sua mãe correu para ver o que estava acontecendo. Horrorizada com a cena e por saber as razões pelas quais o filho assim procedera, correu em busca de Frei António, que foi apressadamente à casa do rapaz. Comovido pelo estado em que o encontrou, quase à beira da morte pelo sangue perdido, animou-o a ter confiança em Deus. O rapaz e o Santo pegaram o pé cortado, recolocaram-no e imediatamente foi restaurado. Ficou tão perfeito como se nunca houvesse sido cortado, com apenas pequena cicatriz no lugar do golpe para testemunho do grande milagre realizado.
15. Morto Falou em Defesa do Pai de Frei António
Um rapaz foi assassinado perto da casa de Martinho de Bulhões, pai de Santo António. Os assassinos levaram o corpo para o quintal de Martinho e ali o enterraram, sem que o proprietário do terreno soubesse. Mais tarde, foi descoberto pela Justiça o corpo na casa do infeliz fidalgo e este foi acusado pelo crime. Diante dos gravíssimos indícios de sua culpa, permaneceu quinze meses preso e, finalmente, estava sendo julgado e seria com certeza condenado à morte.
Frei António foi misteriosamente avisado do perigo que ameaçava seu pai. Santo António foi imediatamente pedir ao Guardião do convento que o deixasse ausentar-se de Pádua por pouco tempo. Assim que foi autorizado, viu-se transportado num instante à Lisboa, indo direto ao tribunal e, depois de beijar a mão de seu pai em sinal de respeito, tomou a sua defesa. Os juízes ficaram impressionados com o aparecimento daquele inesperado advogado e com a segurança com que ele falava, mas não se convenceram da inocência do réu, tantas eram as provas que tinham de sua culpa.
Faltando testemunhas de defesa, Santo António apelou para o depoimento da vítima. Os assistentes, surpresos com a estranha proposta, começaram a rir. Mas Frei António insistiu e os juízes levados pela curiosidade, consentiram que ele chamasse o morto como testemunha da defesa. Chegados à sepultura do falecido, o Santo ordenou que a abrissem e chamou o frio cadáver em voz alta, ordenando-lhe em nome de Deus que dissesse aos juízes a verdade sobre o seu assassinato.
Imediatamente o morto levantou-se como se estivesse vivo e respondeu com voz sonora que Martinho de Bulhões era inocente e não estava manchado pelo seu sangue. Em seguida, deitou-se na sepultura. Santo António, depois de se despedir do pai, desapareceu. Ficaram os juízes e a assistência assombrados com o milagre que acabavam de presenciar. O nobre Martinho de Bulhões, graças ao seu santo filho, teve sua vida salva. Os verdadeiros culpados foram descobertos.
16. Recupera os Cabelos Arrancados de uma Mulher
Em Arezzo vivia um homem nobre, mas tão colérico que quando se irritava parecia perder o juízo. A esposa, senhora de muito siso e prudência, teve um dia a infelicidade de proferir umas palavras que irritaram o marido a tal ponto que ele se atirou sobre ela espancando-a cruelmente, chegando a lhe arrancar os cabelos.
Com os gritos da infeliz, os vizinhos correram para acudi-la, encontrando-a quase morta na cama. O marido, depois de serenar, envergonhou-se do que tinha feito e lembrando-se da fama de Santo António, foi procurá-lo arrependido, pedindo que o ajudasse.
O piedoso Santo foi logo procurar a senhora, abençoando-a e, fazendo o sinal da Cruz sobre ela, começou a rezar. Pouco a pouco ela foi recuperando o antigo vigor e, milagrosamente, quando se ajoelhou aos pés do Santo, renasceu todo o cabelo.
17. Conserva um Copo Intacto e Faz Nascer Uvas numa Videira sem Frutos
Um soldado espanhol chamado Aleardino, que havia perdido a Fé, chegou à Pádua no dia do enterro de Santo António. Vangloriando-se de sua incredulidade, segurou um grande copo de vidro e disse a muitas pessoas que o censuravam: "Se este copo ficar inteiro depois que eu o atirar àquelas pedras, acreditarei que esse padre faz milagres". E atirou o copo com toda a força, mas ele não se partiu. Renunciou então seus erros publicamente e quis converter a um amigo também incrédulo. Chegou, pois, ao amigo e lhe contou todo o acontecido, mostrando-lhe o copo objeto do prodígio.
O amigo ouviu-o com risadas e sinais de desprezo e respondeu: "Não acredito no que dizes. O que estás dizendo é tão impossível como aquela videira sem frutos, de repente, ficar carregada de ramos e cachos, e nós, com suas uvas, fazermos vinho para encher teu copo milagroso!" Mal acabara de falar, a videira se encheu prodigiosamente de folhas e belos cachos de saborosas uvas, as quais, espremidas por Aleardino, encheram o copo com seu licor maravilhoso. Esse copo ainda hoje se conserva no relicário da Basílica de Santo António, em Pádua.
18.Anel Desaparecido do Bispo de Córdoba é Reencontrado
Muito devoto de Santo António, o Bispo possuía um anel de estimação. Certo dia notou a falta dele: ou o tinha perdido, ou o tinham furtado. Passou-se muito tempo sem que o anel aparecesse. Um dia, estava o Bispo à mesa com alguns senhores seus parentes, quando casualmente falaram no poder de Santo Antônio para encontrar bens perdidos.
Disse então o Bispo: "Tenho recebido grandes favores do Santo, mas ele ainda não ouviu as súplicas que lhe tenho feito para achar um anel que perdi". Mal tinha acabado de proferir essas palavras quando o anel desaparecido caiu no meio da mesa, à vista de todos, sem que ninguém soubesse explicar de onde veio.
19. Ajuda um Bispo a Recuperar Papéis Perdidos
O Bispo D. Frei Ambrósio Catarino, grande escritor, estava saindo de Tolosa e levava na bagagem muitos papéis e apontamentos particulares e também um livro intitulado "A Glória dos Santos", para discutir com os hereges. Depois de caminhar muitos quilómetros, percebeu que haviam caído pelo caminho três escritos preciosos, frutos de muito trabalho.
Com enorme tristeza, refez o caminho para os encontrar. Procurou-os em vão. Lembrou-se então de Santo António, dirigiu-lhe uma prece fervorosa, prometendo que se encontrasse os papéis, acrescentaria ao livro "A Glória dos Santos" a narração daquela graça de Santo António. Nesse mesmo instante, aproxima-se dele um desconhecido que lhe pergunta se não havia perdido uns papéis e, ante a reposta afirmativa do Bispo, entrega-lhe os papéis tão desejados!
20. O Casamento da Jovem
Conta-se que uma jovem muito linda, mas cansada de esperar por um noivo, já desesperada de encontrar marido, pediu ajuda a Santo António. Adquiriu uma imagem do santo, benzeu-a e todos os dias enfeitava-a com flores que colhia no jardim. Além disso, orava com regularidade para que Santo Antônio lhe arranjasse um noivo. Mas, passou-se muito tempo e o noivo não aparecia.
Certa vez, pôs-se a lamentar a ingratidão do santo, chegando mesmo a ser repreendida pela mãe. E, desapontada, pegou a imagem e, no auge do desespero, atirou-a pela janela afora. Passava na rua, naquele momento, um jovem cavaleiro e a imagem o acertou na cabeça. Apanhou-a intacta e subiu a escada para devolvê-la. Quem o recebeu foi a formosa donzela. O cavaleiro apaixonou-se por ela e algum tempo depois casaram-se, naturalmente por milagre do santo.
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